A tortura do salão de beleza

dyc2hg3tjoa7zd31azsbsiwt3

foto: Reprodução/Instagram

Ontem eu fui ao salão de beleza. Fazer o que?  Aderir à mais nova moda dos cabelos platinados. Na verdade, já faço reflexo há uns 5 anos, mas não porque eu goste desse sofrimento chamado “salão de beleza”, mas porque eu tenho muitos cabelos brancos – sim, desde que eu tinha 15 anos. Meu cabelo é escuro, e se eu o jogo para o lado, pronto, começa a chuva de perguntas:

– Nossa, você tem cabelo branco? Você tem quantos anos? – como se eu fosse uma velha disfarçada com uma cara de nova.

Será que essas pessoas nunca ouviram falar em genética? Infelizmente aconteceu comigo. Enfim, um belo dia descobri que ficar loira era a solução, e realmente, ninguém percebe meus cabelos brancos quando estou “loira”.

E eu sou a pessoa que mais odeia salão de beleza (daqui a pouco você vai saber os motivos), mas pelo menos de seis em seis meses eu tenho que voltar – porque o cabelo cresce e a raiz “grita”. Acontece que eu tenho um “problema”, que muitas mulheres adorariam ter (é o que elas dizem né, porque na real, ninguém merece): meu cabelo é cheio. Mas não é cheio normal. Ele é tipo, uma juba de leão. Imaginou? Então, é isso.

Pois bem, toda vez que vou ao salão é a mesma história, eu aviso que vai dar trabalho, que é cheio, e a cabeleireira ri, diz “que nada! ” e no meio do trabalho começa a reclamar, falar “é muito cabelo, heim” (todas dizem isso) e afirmam nunca terem pego uma cliente com cabelo tão cheio.

E pra piorar eu tinha cabelo longo. Era um sofrimento, tanto por ser cheio, quanto por ser longo. E eu via a cabeleireira, coitadinha, sofrendo na minha juba e prometia pra mim mesma que não ia mais fazer reflexo, que ia assumir os brancos. Mas que nada, quando eles começam a gritar eu esqueço todo o sofrimento do salão e lá vou eu mais uma vez quebrar a cara. Essa sou eu.

Bom, mas dessa vez resolvi procurar um bom salão e aqui perto de casa abriu um maravilhoso, os cabeleireiros tem cursos internacionais e são especialistas em “loiro platinado”. Adorei a notícia, porque no fundo eu queria acreditar que os profissionais anteriores que eram despreparados, por isso reclamavam tanto.

Resolvi marcar então com “A FERA”. O salão é dela, leva o nome dela, ela é a diva, e garanti meu horário (tão disputado) com ela.

Cheguei no salão e eis que começa o meu tormento. Primeiro, ela atrasou uma hora. Menos mal, se fosse eu a atrasada perderia meu horário. Mas como foi ela, só me restava esperar pacientemente. Afinal, eu tinha meu celular em mãos com 3g e muitas conversas no whatsapp (tá bom, nem tantas assim, mas deu pro gasto).

Ela chegou, se desculpou pelo atraso, eu fui super compreensiva, disse que não tinha problema algum e ela perguntou:

– O que você vai fazer?

Respondi:

– Primeiro vou cortar. Depois fazer as mechas.

Ela fez cara feia, disse que não gostava muito de tirar comprimento, disse que ia cortar um pouco menos do que eu gostaria, senão eu poderia me arrepender.

Ah gente, eu pensei no seguinte: o cabelo já é cheio, comprido então … trabalho dobrado. Então corta isso, que pelo menos dá um alivio.

Ela cortou e depois iniciou o processo das mechas.

Gente, eu JURO que ela levou mais de duas horas pra puxar as mechas. As pessoas com cabelos normais levam no máximo uma hora.

Bom, eu já estava cansada de permanecer na mesma posição durante duas horas, quando ela começou a puxar as mechas do topo da cabeça. Nessa hora, ela pede que eu a incline um pouco pra trás. Se meu cabelo fosse normal, em 5 minutos ela terminaria esta etapa, mas levou mais de 20 minutos, que pra mim foi uma eternidade. Meu pescoço não estava suportando mais. E gente, eu NÃO sou nem um pouco fresca. Mas estava doendo MUITO. Eu coloquei as mãos atrás do pescoço para segura-lo, já que ele já não tinha mais forças.

E então ela viu e falou:

– Coloca os dois dedos na boca e puxa o maxilar para frente.

Eu achei ridículo, porque eu estava no meio do salão e várias pessoas paravam pra conversar com a ilustre cabeleireira enquanto ela fazia meu cabelo. Mas engoli o orgulho porque a dor estava insuportável e passei uns 10 minutos segurando a cabeça com os dedos, puxando os dentes !

E as mechas não acabavam !

Meus dedos já estavam machucados pelos dentes e meu braço não suportava mais o peso. E me mexi. Ela me deu uma bronca feia. Disse:

– Mocinha, você não pode se mexer ! Fica quietinha aí !

Eu entendi, mas uma lágrima começou a querer rolar pela lateral do olho direito e eu falei:

– Mas está doendo muito.

Ela respondeu:

– É, dói mesmo.

E fez menção pra eu voltar a posição pra ela continuar o trabalho.

Oi? Fiquei passada ! Esperava que ela fosse falar “pode descansar uns 5 minutinhos, enquanto eu bebo uma água ou vou ao banheiro”.

Eu estava quase chorando ! Estava morrendo de dor, o que custava ela me dar 2 minutinhos?

Mas não, ela indicou que queria continuar e eu aguentei mais uns 10 minutos de tortura. Eu só queria ir embora, queria que aquilo acabasse.

Depois, tive que esperar uns 40 minutos, com os papéis (alumínio) na cabeça.

Sento no sofá e presto atenção nas pessoas. Mulheres bem arrumadas, maquiadas, conversando bastante com o outro cabeleireiro, que por sinal era marido da minha cabeleireira – será que era por isso o mau humor dela? Ah mas ela já deveria estar acostumada, afinal, todos os dias deviam ser assim.

Elas falavam gírias de meninas da “moda”, riam muito e por incrível que pareça, a cabeça delas não doía, só a minha (claro, a juba interminável). Elas tinham unha de “acrigel” bem grandes e “mega hair” e conversavam sobre combinações de roupas e sapatos.

Tinha uma moça bem alta e não era muito bonita, estava bem arrumada. Ela tinha um ar bem metido, estava sempre séria, mandando e recebendo muitas mensagens em seu “iphone”. Nessas horas a minha imaginação flui. Fico querendo imaginar onde essa pessoa trabalha e porque ela é assim, tão metida, como ela é no dia a dia, ou se aquela pose era só um personagem dentro do salão. Sei lá.

As assistentes foram ver o meu cabelo e ficaram super assustadas, falando baixinho umas pras outras que estava oxidando muito (oh meu Deus, o que significa isso?). Eu não perguntei nada, só queria que resolvessem aquilo pra eu me mandar. A cabeleireira, a diva, já estava puxando mechas em outra pessoa e nem aí pra mim. As assistentes resolveram o meu problema e retocaram o que estava manchado.

Bom, depois lavei o cabelo e doeu pra caramba também, porque tinha que deixar a cabeça inclinada também no lavatório. Eu não sabia mais quem era eu, eu só pensava na minha cama e de passar pelo menos umas 20 horas deitada. Era só isso que eu queria.

Pra finalizar, tinha a escova. Um rapaz tratou de faze-la e eu olhava pra escova e via milhares de cabelos (meus!) enrolados na escova. Ele puxava pra cá, puxava pra lá e mais uma vez meu pescoço estava sendo sacrificado. Eu tinha a sensação que cada vez que ele passava a escola, quebrava centenas de fios, mas eu não conseguia falar nada, não conseguia expressar sentimentos, fiquei parecendo uma boneca, minha cabeça ia e voltava à cada puxão. Eu só queria ir embora.

Quando acabou eu dei graças a Deus, paguei e pensei em nunca mais voltar ali. Foi quando fui avisada na recepção que eu teria que voltar três dias depois para a primeira lavagem, e que tinha direito a um tratamento. Agora estou pensando em ir fazer o tratamento (afinal, eu paguei e tenho direito) e depois disso, nunca mais voltar nesse lugar.

E quando o cabelo crescer ? bom, daqui há seis meses eu penso nisso novamente.